sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Geórgia X Rússia

Fonte: Reuters

Há décadas que as fronteiras traçadas no Cáucaso são motivos de tensão. E é por isso que a região é palco freqüente de conflitos, como o que eclodiu em agosto de 2008 na Ossétia do Sul, território separatista da Geórgia. A situação é tão delicada que a menor alteração nas relações entre os habitantes locais tem o potencial de desencadear uma guerra. Os fatos que culminaram com a invasão da Ossétia pela Geórgia, apesar de terem evoluído em extrema velocidade, não têm origens recentes. Esses confrontos armados são resultado de anos de disputas e desentendimentos, que ultrapassam os domínios georgianos. Entenda quando começou a rivalidade e qual é a participação da Rússia nessa história e o que pretendem os separatistas da Ossétia do Sul.



1. Qual é a origem do atual conflito entre a Rússia e a Geórgia?
A recente eclosão de violência na região do Cáucaso encontra suas raízes quase um século atrás, quando o ditador Josef Stalin (1879-1953), em 1922, decidiu transformar o território da Ossétia do Sul em Região Autônoma da República Socialista Soviética da Geórgia. A medida colocou os ossetas, grupo etnicamente ligado à Rússia, dentro do domínio georgiano, que nunca compartilhou os mesmos laços culturais.


2. Qual é o status da Ossétia do Sul atualmente?
Situada na encosta sul das montanhas do Cáucaso, a cerca de 100 quilômetros ao norte da capital Tbilisi, a Ossétia do Sul faz parte, oficialmente, da Geórgia, embora tenha um governo próprio desde o início dos anos 90. A polêmica sobre a situação política do território começou em 1989, quando o Congresso de Deputados Populares da região separatista proclamou sua conversão em República Autônoma, decisão considerada inconstitucional pelo Parlamento georgiano. Em 1990, os deputados anunciaram a soberania e a criação da República da Ossétia do Sul.


3. Por que a Ossétia do Sul quer a independência?
Os ossetas pertencem a um grupo étnico natural das planícies russas ao sul do Rio Don, mas estão divididos entre dois territórios distintos: Ossétia do Norte, república autônoma da Rússia, e Ossétia do Sul, parte da Geórgia. Menos de um terço da população da região separatista é composta por georgianos. Em 2006, a separação de Tbilisi chegou a ser aprovada em um referendo quase unânime, mas a consulta popular não foi reconhecida pela Geórgia e ainda foi apontada como uma provocação encabeçada pela Rússia.


4. Os separatistas já travaram outros conflitos violentos com a Geórgia?
A declaração de autonomia da Ossétia do Sul, em novembro de 1989, provocou um conflito que se estendeu por três meses. Em seguida, o colapso da União Soviética reacendeu a chama separatista entre os ossetas, que iniciaram uma guerra contra os georgianos no final de 1990. Ao final do conflito, em 1992, a Ossétia do Sul proclamou sua independência, embora o ato não tenha sido reconhecido pela comunidade internacional. Desde então, a região é ocupada por uma força de paz, composta por membros da Geórgia, da Ossétia Sul e da Rússia, que intermediou os acordos de cessar-fogo.


5. Qual foi o estopim da crise atual?
Os ânimos esquentaram no início de agosto, quando seis pessoas teriam morrido em combates entre separatistas e militares da Geórgia. O episódio fez com que os ossetas começassem a evacuar a área, sobretudo em direção à Rússia e a Ossétia do Norte. Com a invasão da Ossétia do Sul pela Geórgia no dia 8, a crise extrapolou as fronteiras do Cáucaso. Após a ofensiva, a Rússia decidiu enviar tropas para a região. A comunidade internacional interferiu e depois de cinco dias de combates, os russos determinaram um cessar-fogo. Sob a intermediação da França, os dois países aceitaram um plano de paz, que já foi descumprido logo no primeiro dia.


6. Por que a Rússia se envolveu na briga?
Além dos laços étnicos com os ossetas, Moscou é acusada de apoiar Tskhinvali (capital separatista). As ligações são tão estreitas que quase todos os moradores da região possuem passaportes russos e usam o rublo como moeda. A Rússia também cobre cerca de dois terços do orçamento anual da Ossétia do Sul, de aproximadamente 30 milhões de dólares. Em 2004, a ascensão de Saakashvili, aliado dos Estados Unidos, à Presidência da Geórgia contribuiu para aumentar a antipatia dos russos perante os georgianos.


7. Quais foram os últimos avanços da Ossétia do Sul rumo a uma eventual independência?
Saakashvili propôs um acordo de paz com a Ossétia do Sul, através do qual a região ganharia um "grande grau de autonomia", mas ainda dentro do estado federal da Geórgia. Os separatistas, no entanto, rejeitaram a proposta e seguem insistindo na independência absoluta. Essa obstinação ganhou força após o Ocidente reconhecer a separação do Kosovo do domínio sérvio, no início de 2008.



8. Qual é a importância econômica da região em conflito?
Apesar de não ser uma grande produtora de petróleo, a área possui importantes gasodutos que servem para transportar gás cru e natural entre a Europa e a Ásia, o que pode ser um dos motivos pelo quais a Rússia não quer perder a influência sobre a região.
Acompanhe a evolução histórica deste conflito.

Um comentário:

Wellington Goes disse...

Parece ser um fato evidente que o desencadear das hostilidades começou com uma decisão precipitada do presidente da Geórgia e que tenta meter mais países ao barulho.
A situação da Ossétia não pode ser desligada do que aconteceu no Kosovo, uma vez que os seus estatutos são em tudo semelhantes. Ou seja, o fantasma do "kosovo" deslocou-se dos balcãs para o Cáucaso. Não deixa assim de ser bizarro que quem promoveu ativamente o retalhamento da nação Sérvia, dando inclusive apoio a grupos terroristas, venha agora invocar o valor das fronteiras. Assim como quem defendeu a inviolabilidade das fronteiras da Sérvia nessa altura, venha agora intervir militarmente na Ossétia, e mais tarde irá defender a inviolabilidade das suas fronteiras quando falarmos da Tchetchenia e de outras republicas. A Rússia e a Geórgia deram mais um exemplo da faceta de hipocrisia do ser humano. Neste confronto, os únicos inocentes são os povos que apenas sonham com uma vida de paz e de liberdade. "A defesa é o primeiro dever de um soberano." (paradoxo de Adam Smith)