O governo federal tem um plano ambicioso para Rondônia. E não se trata só das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em construção no Estado, com capacidade para gerar 6% da energia do Brasil. O arranjo é maior. Se tudo ocorrer conforme o projeto inicial, outras duas barragens serão erguidas ali. Além de uma hidrovia para ligar o país à Bolívia. O rio Madeira se transformaria num corredor importante de comércio para conectar o Brasil aos países da América do Sul. E abriria um canal – hoje inexistente – para escoar os grãos produzidos no vizinho e no Mato Grosso. A despeito da grandiosidade do projeto, pouca gente o conhece.
As hidrelétricas do rio Madeira sempre foram controversas. Primeiro porque alagam uma área de floresta e deslocam os ribeirinhos de suas casas. Segundo pelas próprias características do rio. O Madeira carrega em suas águas uma quantidade atípica de sedimentos, que pode prejudicar as usinas. Em épocas de cheia, arranca árvores de suas bordas e as leva correnteza abaixo (daí seu nome). Isso pode destruir as turbinas de geração. Quando o governo anunciou as hidrelétricas, os ambientalistas ficaram com os ânimos exaltados. As obras foram, inclusive, apontadas como o principal motivo da saída do governo da senadora Marina Silva (PV), então ministra do meio ambiente. Ela batia de frente com o Ministério de Minas e Energia ao discordar da construção sem critérios. E sua permanência se tornou insustentável diante da postura do governo de manter o plano.
Diante da polêmica, não interessava ao governo bancar sua decisão de erguer o complexo todo. Nem mesmo espalhar aos quatro ventos que, além de duas hidrelétricas, pretendia construir mais duas usinas – Abunã-Guayaramerín, na fronteira com a Bolívia, e a barragem Esperanza, já na Bolívia – e uma hidrovia (ver mapa). “O licenciamento de outras grandes obras geraria ainda mais atrito”, afirma o sociólogo Luis Fernando Novoa, professor da Universidade Federal de Rondônia. “A opção do governo foi separar o complexo hidrelétrico da hidrovia para facilitar o financiamento das obras e a formação do consórcio. E tentar conter uma crise política”.
As hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau fazem parte de um mega projeto de 12 países, Brasil incluído, para desenvolver a América do Sul. Seu nome é Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA). O objetivo é auto-explicativo. Ao conectar os países com obras de infra-estrutura (estradas de ferro, rodovias, hidrovias, usinas e linhas de transmissão), a possibilidade de crescimento se multiplica. A construção das usinas do Madeira é só o primeiro passo. As usinas, além de gerar energia, preveem eclusas para ampliar os trechos navegáveis do rio.
O rio Madeira já tem uma hidrovia. Seus 1.156 quilômetros ligam a capital Porto Velho ao porto de Itacoatiara, em Manaus. Dali para o oceano é um pulo. O problema é (literalmente) mais embaixo: o trecho de Porto Velho em direção à Bolívia. Há ali inúmeras cachoeiras, um empecilho à ampliação da estrada fluvial. As eclusas previstas nas quatro hidrelétricas resolveriam essa questão. E aumentariam o pedaço navegável para 4.200 quilômetros.
Dois setores, em especial, levariam vantagem com o mega projeto: o de soja e o de minérios. Se a hidrovia sair do papel, a capacidade de transporte de soja em 2015 pela Bolívia vai chegar a 50 milhões de toneladas ao ano. Segundo o Iirsa, os estados de Rondônia e Mato Grosso, que hoje produzem cerca de 3 milhões de toneladas do grão por ano, passariam a colher 28 milhões. Um aumento de mais de 800%. Na Bolívia, a expectativa de produção de grãos é de 24 milhões.
O transporte fluvial tem inúmeras vantagens em relação ao rodoviário e ferroviário. Por usar menos combustível, emite menos gases do efeito estufa e reduz a contribuição para as mudanças do clima. Também é mais econômico. O custo do transporte de carga por hidrovias no Brasil é entre 57% e 70% menor que o rodoviário, segundo a Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja). Mas construir uma hidrovia sem qualquer transparência e planejamento pode ser desastroso. Ao aumentar a pressão pela terra, o desmatamento explode. Assim como a briga pela posse e os crimes no campo. Esses custos estão longe de entrar na conta.
Leia mais: A usina que explodiu
Fonte: Revista Época
domingo, 26 de junho de 2011
Etanol de mandioca pode levar energia a comunidades isoladas da Amazônia
Há 130 anos, o americano Thomas Edison, criador da lâmpada incandescente, construiu em Nova York o primeiro sistema de distribuição de energia elétrica do mundo. Graças a ele, no conforto de sua casa, você hoje desliza o dedo no interruptor num movimento quase automático e a luz se acende. Mais de um século depois da invenção de Edison, milhares de ribeirinhos da Amazônia ainda vivem sem eletricidade da rede. Para conseguir energia, usam geradores movidos a óleo diesel quando o dinheiro permite. A luz vem de lamparinas ou velas. A energia faz falta nas atividades mais triviais – e você só percebe sua necessidade real quando ela não está disponível.
Certa vez, em uma viagem à Amazônia, fiquei por alguns dias hospedada em uma comunidade cabocla que passa grande parte do tempo no escuro. Na casa da família Silva, eram em três: o pai, a mãe e uma menina de 14 anos. O pai transformava a mandioca em farinha no puxadinho ao lado da casa para fazer um troco. A força que girava os equipamentos de moagem vinha dos braços. Na falta de uma geladeira, a mãe conservava a carne do animal morto no sal. Uma prática comum ali para garantir o alimento dos próximos dias. A garota, do auge de sua vaidade adolescente, pintava-se à luz de um lampião. À noite, a família parava todas as atividades para acompanhar uma novela. Mas eles só podiam assistir ao desenrolar da trama enquanto havia combustível. Quando o óleo acabava, a cada três dias, a diversão acabava também.
A comunidade, claro, não tinha um posto de combustível na esquina. O diesel vinha da cidade mais próxima, a mais de quatro horas. A família também não tinha um carro para ir até lá. Dependia da boa vontade do motorista de ônibus de uma linha local para levar o gerador até a cidade. O moço passava na frente da casa pela madrugada. A mulher acordava, entregava a máquina e pedia para reabastecê-la. Dois dias depois, o gerador voltava cheio – e a família podia novamente se reunir em frente à televisão. Sempre com um déficit de dois capítulos da novela.
Em breve, a rotina dessas famílias que ainda vivem com mais de um século de atraso pode ficar mais fácil. Pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e do Instituto Energia e Desenvolvimento Sustentável (Inedes) estão desenvolvendo um etanol de mandioca para abastecer os geradores da Amazônia. O projeto ainda está no início. Na próxima semana, eles vão começar a plantar quatro espécies do tubérculo na fazenda da Ufam. A ideia é construir uma pequena usina para transformar a mandioca em etanol até o final do ano. O projeto é uma iniciativa da Eletrobrás Amazonas Energia e teve investimentos de R$ 3,8 milhões. “Se der certo, vai ser o primeiro etanol de mandioca fabricado no Brasil”, afirma Rubem César Rodrigues Souza, coordenador do projeto pela Ufam. Além do ineditismo, o novo combustível pode revolucionar o fornecimento de energia para comunidades isoladas da Amazônia. E dar um pouco mais de conforto a famílias como a dos Silva.
Fonte: Revista Época
Tecnologias de baixo carbono são a solução para um planeta superlotado
Faltam pouco mais de três meses para a população mundial chegar ao inédito número de 7 bilhões de pessoas, segundo uma previsão da Organização das Nações Unidas (ONU). Mais gente habitando a Terra significa um uso maior de água, alimentos, carros, roupas, casas… Uma lista quase infinita. E o planeta já se encontra estafado pelo consumo desenfreado.
Para amenizar os impactos de uma população que só cresce, os especialistas defendem dois caminhos. O primeiro é a redução do consumo. Quando usamos menos recursos naturais, diminuímos nossa pegada de carbono e, consequentemente, o potencial do temido aquecimento terrestre. O ponto central da mudança rumo a uma economia de baixo carbono é o consumidor. O segundo é a revolução tecnológica. As empresas terão de inovar na busca de soluções ambientais de baixo impacto. E de produtos adaptados a uma nova geração com consciência ecológica.
Essas ideias estão no livro “Toneladas sobre os ombros”, de Ernesto Cavasin Neto, da consultoria Price Waterhouse and Coopers. A publicação, uma análise profunda desta transformação que evolui junto do atual mercado de carbono, vai ser lançada pela Editora Schoba no próximo dia 30. No texto, a vida e comportamento de Santos Dumont é relacionada a ideias para a evolução do combate ao aquecimento global. Cavasin apresenta sugestões de como as empresas podem se preparar para esta nova economia de forma inovadora e definitiva.
Leia mais: 7 bilhões de consumidores, 1 planeta
Porque os assentamentos atraem madeireiros e carvoeiros ilegais
A sucessão de mortes no Pará mostra que há algo errado na estratégia de assentamentos extrativistas na Amazônia. Os assentados são jogados em áreas ricas em madeiras preciosas para madeireiras clandestinas e para carvoarias. Não têm assistência técnica nem financiamento adequado para desenvolverem atividades que geram renda e conservam as florestas. Não tem segurança também. Acabam nas mãos das serrarias. Os que resistem, são ameaçados. Em alguns casos, mortos.
A taxa de desmatamento dentro dos assentamentos é quatro vezes superior à taxa média da Amazônia. Um estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), feito com assentamentos criados de 1997 a 2002, mostra que a média de destruição em 43% das áreas monitoradas foi de 75%. Um índice quase quatro vezes maior que os 20% permitidos por lei. “A falta de infra-estrutura nos assentamentos leva à devastação”, afirma Paulo Barreto, do Imazon. Dados do Incra mostram que apenas 30% dos assentamentos na Amazônia recebem investimentos como estradas, escolas e saúde. O restante das famílias vive abandonado na mata. A maioria em áreas de conflito, ameaçada por madeireiros ilegais e ladrões de terras.
Saiba mais clicando aqui: Revista Época
Mudar a cor da nuvem pode ajudar clima, afirmam cientistas
Mudar a cor das nuvens e injetar aerossóis nas camadas altas da atmosfera podem servir para o combate das mudanças climáticas, afirmaram especialistas internacionais em geoengenharia, convocados em Lima por um programa das Nações Unidas para discussão sobre o tema.
Essas novas tecnologias poderiam reduzir os níveis de radiação solar sobre a vida terrestre e diminuir os efeitos do aquecimento global, acrescentou.
Os cientistas pertencem ao IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU), organismo criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial e o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), cujo objetivo é propor medidas de mitigação para as mudanças climáticas.
O cientista Christopher Field, do Instituto Carnegie para a Ciência (EUA), disse na quarta-feira que uma das "tecnologias complexas" seria mudar a cor do brilho das nuvens. Outras mais simples incluem a semeadura de árvores.
Field afirmou que é preciso avaliar o impacto que a tecnologia poderia ter sobre o clima, os oceanos, as pessoas, os sistemas sobre o clima e os sistemas terrestres.
"Estamos nas etapas iniciais de um estudo sobre essas novas tecnologias, que poderiam ser úteis ou não para responder às mudanças climáticas", explicou.
Co-presidente do IPCC e catedrático da Universidade de Berna, na Suíça, Thomas Stocker informou que, entre os métodos modernos, também está a possibilidade de injetar aerossóis nas camadas altas da atmosfera e da estratosfera.
Outro cientista, Ottmar Edenhofer, do alemão Instituto Potsdam para a Pesquisa das Mudanças Climáticas, considerou que todas as ações devem ser analisadas para enfrentar o problema das variações climáticas.
Fonte: Folha.com
Essas novas tecnologias poderiam reduzir os níveis de radiação solar sobre a vida terrestre e diminuir os efeitos do aquecimento global, acrescentou.
Os cientistas pertencem ao IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU), organismo criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial e o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), cujo objetivo é propor medidas de mitigação para as mudanças climáticas.
O cientista Christopher Field, do Instituto Carnegie para a Ciência (EUA), disse na quarta-feira que uma das "tecnologias complexas" seria mudar a cor do brilho das nuvens. Outras mais simples incluem a semeadura de árvores.
Field afirmou que é preciso avaliar o impacto que a tecnologia poderia ter sobre o clima, os oceanos, as pessoas, os sistemas sobre o clima e os sistemas terrestres.
"Estamos nas etapas iniciais de um estudo sobre essas novas tecnologias, que poderiam ser úteis ou não para responder às mudanças climáticas", explicou.
Co-presidente do IPCC e catedrático da Universidade de Berna, na Suíça, Thomas Stocker informou que, entre os métodos modernos, também está a possibilidade de injetar aerossóis nas camadas altas da atmosfera e da estratosfera.
Outro cientista, Ottmar Edenhofer, do alemão Instituto Potsdam para a Pesquisa das Mudanças Climáticas, considerou que todas as ações devem ser analisadas para enfrentar o problema das variações climáticas.
Fonte: Folha.com
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