“O ignorância disseminada do público sobre assuntos científicos ilustra uma falha importante da educação”, diz Somerville. Ele acredita que muitos dos alunos secundaristas que sabem pouco sobre ciência climática hoje infelizmente vão virar adultos, alguns com diploma universitário, que continuarão sabendo pouco sobre o assunto. Isso é uma tragédia considerando que o mundo precisa, na próxima década, tomar medidas drásticas para evitar as piores conseqüências do aquecimento global.
“Realisticamente, não teremos chance de educar o público em geral sobre conhecimentos profundos da ciência em tão pouco tempo. Enquanto isso, uma campanha bem financiada de desinformação está conseguindo semear confusão. E muitas pessoas acham erradamente que a ciência climática não é confiável ou que é controversa dentro da comunidade científica”, afirma Somerville. Para ele, a tarefa mais urgente para os cientistas é fornecer ao público orientações básicas para reconhecer e rejeitar a falsa informação científica. Ele detalha essas dicas em seis princípios básicos. O que ele diz:
1. As conclusões essenciais da ciência são incontroversas
O mundo está esquentando. Há vários tipos de evidências: temperatura do ar e do oceano, derretimento de geleiras, elevação dos mares e outras. As atividades humanas são a principal causa disso. O aquecimento não é natural. Não é causado pelo Sol, por exemplo. Sabemos disso porque podemos medir o gás carbônico produzido pelo homem. E ele é mais forte do que as mudanças no Sol, que também medimos.
2. O efeito estufa é bem compreendido
Ele é tão real quando a força da gravidade. As fundações da ciência que o estuda têm mais de 150 anos. O Dióxido de carbono (gás carbônico) na atmosfera retém o calor. Sabemos que o gás carbônico está aumentando porque medimos. Sabemos que isso vem de atividades humanas, como queima de combustíveis fósseis, porque podemos analisar as evidências químicas disso.
3. As previsões climáticas estão se confirmando
Muitas mudanças climáticas já observadas, como a elevação do mar, estão dentro das escalas mais altas das previsões. Algumas, como o derretimento das geleiras, estão ocorrendo mais rápido que o antecipado nos piores cenários. Medidas urgentes são necessárias para manter as mudanças climáticas dentro de um padrão moderado.
4. Os argumentos típicos dos céticos já foram refutados várias vezes
Os contra-argumentos estão em muitos sites e livros. Por exemplo, os mecanismos que causam mudanças climáticas naturais são irrelevantes diante do aquecimento atual. Sabemos por que as eras do gelo vêm e vão. Elas são efeito de mudanças na órbita na Terra, que levam milhares de anos. O aquecimento de agora, observado em poucas décadas, não pode ser explicado por processos tão lentos quanto mudanças de órbita.
5. A ciência tem seus próprios padrões
A ciência não funciona com pessoas sem qualificações fazendo afirmações na TV ou na internet. Ela é o fruto do trabalho de especialistas que pesquisam e publicam os resultados em revistas científicas revisadas por outros especialistas. Outros cientistas podem examinar a pesquisa, repeti-la e avançar a partir dela. Os resultados válidos são confirmados. Os errados são expostos e abandonados.
6. As principais organizações científicas do mundo concordam com a ciência climática
Essas organizações, como academias nacionais de ciência ou sociedades profissionais, examinaram os resultados das pesquisas e confirmaram suas conclusões. Seria tolice imaginar que milhares de cientistas do clima no mundo todo participam de uma conspiração para enganar o público. Também é tolice achar que pequenos erros no extenso relatório do IPCC (painel de ciência climática da ONU) pode invalidá-lo. Ele é o melhor ponto de partida para enfrentar o desafio das mudanças climáticas.
A imagem acima, da Nasa, agência espacial americana, mostra as fontes de gás carbônico da Terra. Foi feita por satélites em 2003. As áreas em vermelho são pontos com concentração de emissões. As em azul são locais onde há absorção do gás.
Fonte: Época - Globo.com